Trabalho como meio de expressão e negação da subjetividade



As especificidades do capitalismo dependente dos países latino americanos e reflexões sobre condições subjetivas do trabalho marcaram o segundo painel do XXV Encontro Regional da Amatra VI, nesta quinta-feira (30). Sob o tema “Sofrimento e ultra exploração da classe trabalhadora”, os palestrantes Gabriela Caramuru Teles, Leonardo Vieira Wandelli e Kaliani Gomes Teixeira Rocha aprofundaram as discussões com a mediação da diretora da Anamatra, a juíza Luciana Conforti.

Em uma análise estrutural e conjuntural, a advogada e mestre em direito Gabriela Teles evidenciou o subdesenvolvimento não como uma fase do desenvolvimento, mas como parte estrutural da lógica neoliberal. Resgatando a superexploração do trabalhador como jornadas maiores e mais intensas e salários menores, ela chama atenção para a perpetuação do modelo de dependência. “A resposta que o capital está dando agrava a crise. Retirar direitos sociais é diminuir o salário e fragiliza a economia, o mercado nacional passa a ser ainda menor”, avaliou.

Já o juiz do trabalho e professor doutor da Universidade Federal do Paraná Leonardo Wandelli apresentou o conceito de psicodinâmica do trabalho alertando para a necessidade de os magistrados se aprofundarem no conhecimento acerca das reais relações do universo trabalhistas. “O neoliberalismo nos impõe uma forma de trabalhar que nos coloca numa situação de individualização e de competição de todos contra todos. Não é só uma ideologia, é uma racionalidade global voltada a governamentalidade para sua manutenção”, resumiu, lembrando que a centralidade social do trabalho determina o trabalho como uma mediação essencial para a dignidade humana.

Por fim, a psicóloga e professora da Universidade Federal de Pernambuco Kaliani Rocha destacou o conceito de apropriação do sujeito pelo trabalho como um aprofundamento da relação de exploração. “Essa ultra exploração do trabalho não reconhece o ser humano”, defendeu. Na ocasião, ela pontuou questões da gestão contemporânea diretamente relacionadas às patologias: a quebra das estratégias coletivos de defesa, impedimento do gênero profissional, o rompimento da solidariedade no trabalho e ausência de reconhecimento. “Reconhecimento é o principal motivo que leva as pessoas a trabalharem e o que elas conseguem é inversamente proporcional”, conclui.

Nacional – A noite contou ainda com pronunciamento do presidente da Anamatra, Germano Siqueira, que lembrou o compromisso histórico e institucional da entidade com a luta pela defesa da magistratura e do direito do trabalho, cobrando engajamento. “Não pode ser uma luta apenas de uma diretoria, mas de todos nós. O que se pretende no parlamento é eliminar o direito do trabalho e, se possível, a Justiça do Trabalho e qualquer garantia de bem-estar social”, afirmou, destacando ainda ameaças à magistratura trabalhista. “Uma ameaça de morte a um Juiz do Trabalho é um fato raro, mas se intensificou de uma forma absurda do ano passado para cá”, alertou, fazendo referência a declarações do ministro Ives Gandra.