Para algumas pessoas, o dia parece ter 48h. É o caso da juíza Wiviane Souza, que acorda diariamente às 5h, ora, medita, malha, dá conta de mil afazeres domésticos – como mãe, esposa, filha, amiga – para poder se dedicar a algo que ela acredita que faz evoluir: a educação. Como coordenadora da Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (EJUD6), desde 2021, foca na capacitação de servidores e de juízes, para uma melhor prestação jurisdicional à sociedade, no âmbito de uma Justiça pela qual se apaixonou, percorrendo vários caminhos até chegar à Magistratura. Confira!
Isto Posto (IP) – Como se deu a sua escolha pela Magistratura do Trabalho?
Wiviane Souza (Wiviane) – Na minha visão, foi uma escolha natural. Ainda na Faculdade de Direito, estagiei em vários locais – Defensoria Pública, Ministério Público do Trabalho, Justiça Estadual, escritório de advocacia. Quando cheguei no escritório que atuava na área do trabalho, fiquei encantada. Mas percebi que não queria advogar. Meu caminho estava na Magistratura.
IP – Então fez logo concurso para juiz?
Wiviane – Não, ingressei na JT como Analista Judiciário (Oficiala de Justiça) e ocupei a função de Diretora de Secretaria. Foram etapas importantes, essenciais para que eu garantisse meus três anos de prática jurídica, mas sempre tendo a Magistratura como prioridade.
IP – Foi uma jornada trabalhosa?
Wiviane – Foi uma caminhada que me ensinou bastante, contei com a ajuda de pessoas importantes – como a juíza Lúcia Teixeira, que coordenava um grupo de estudos que me deixou amigos até os dias atuais. A aprovação no concurso veio, mas para o TRT16, no Maranhão. Em agosto de 2014, consegui permuta para Pernambuco. Passei três meses em Serra Talhada/Sertânia, até me fixar na 22ª Vara do Trabalho do Recife. Desde 2021, estou na Coordenação da Escola Judicial.
IP – De lá para cá, a JT mudou? Como avalia?
Wiviane – Estou na JT desde 2006. Na JT, acompanhei muitas mudanças, que vão desde o acesso à justiça e alterações na competência. O PJE foi um marco significativo, positivo; mas temos a Reforma Trabalhista que impactou diretamente na Magistratura, algo que entendo como um retrocesso. A JT, desde a sua criação, enfrenta desafios, mas é resistência. Outro ponto que percebo é que a JT tem abraçado importantes frentes – que superam a relação empregador x empregado. São ações conexas, mas que tratam de temas sensíveis, envolvendo raça, gênero, enfim, igualdade.
IP – Recentemente, tem atuado junto à Escola Judicial. Como esse trabalho se conecta com a missão da Magistratura?
Wiviane – A educação transforma, e isso é maravilhoso. Essa mudança, através da metanoia, nos faz evoluir, melhorar. Por isso, é muito gratificante estar como Coordenadora da EJUD6. Trabalhamos na capacitação de servidores, servidoras, Magistrados e Magistradas, contribuindo para uma melhor prestação jurisdicional, célere e eficiente. Para mim, é motivador poder planejar pedagogicamente, em âmbito institucional, o que a nossa Magistratura consome enquanto conteúdo educacional.
IP – Como avalia o movimento associativo da Magistratura?
Wiviane – A voz da Magistratura é feita por meio das associações – estadual e nacional - que podem dialogar com outros atores, atuando diretamente nas várias lutas que temos, e que não envolvem apenas as questões remuneratórias. Temos que ver as condições de trabalho ideais, para que o juiz e a juíza possam efetivamente atender às demandas da sociedade.
IP – Como conciliar a Magistratura e a vida familiar?
Wiviane – Gosto de ser inteira. Quanto entrego o meu tempo, a qualquer coisa, tento fazer da melhor forma. É necessário, então, estabelecer uma linha tênue, mas com equilíbrio. Quando estou no trabalho, busco me dedicar integralmente, direcionar meu foco. Já quando estou com a família, filhos, marido, parentes, o tempo é deles, o foco é outro. É uma dinâmica que pode nem sempre funcionar como desejamos, mas sigo buscando esse equilíbrio.
IP – Tem tempo para lazer, hobby?
Wiviane – Me falam que sou elétrica, que meu modo é “50 anos em 5”. Tento otimizar meu tempo para poder viver. Busco ter uma vida saudável, a partir de hábitos simples, que unem a saúde física e mental. Acordo cedo (5h), tenho uma rotina de oração, meditação, malhação – que alterno com a natação e pilates. Também não abro mão de ir à igreja aos domingos, participo de encontro de casais, sempre estou com amigos, para ouvir e falar. E uma outra coisa inegociável na vida (e em família): como rubro-negra, vou ao campo, assisto jogos, torço, vibro. É terapêutico!
IP –Algo mais acrescentar?
Wiviane – Essa foi uma oportunidade interessante de fazer uma retrospectiva da minha história – quase 20 anos de Justiça do Trabalho – de pensar, repensar e poder compartilhar com os/as colegas o que já vivi.