Os suplementos alimentares estão, mais do que nunca, na moda. O uso para reforço à “malhação” ou para atender necessidades individuais, independentemente de sexo e idade tem ganhado destaque, mas é preciso ter cuidado. O médico Marcus Villander, Mestre em Ciências pelo Instituto Ageu Magalhães/ Fiocruz; membro do American College of Physicians (ACP) e da European Lupus Society (SLEuro), especialista em Clínica Médica, com atuação no TRT6 e na Clínica Real Imuno/Real Hospital Português, explica os benefícios, os perigos e faz alguns alertas no uso desses produtos e dá dicas preciosas para uma vida de qualidade.
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Confira:
Isto Posto (IS) – Suplementos são medicamentos?
Marcus Villander - Não. Suplementos e medicamentos têm finalidades diferentes. Enquanto os medicamentos são usados para tratar ou prevenir doenças, os suplementos alimentares são produtos que contêm nutrientes como vitaminas, minerais, aminoácidos ou outras substâncias, com o objetivo de complementar a dieta. Porém, eles não substituem uma alimentação balanceada nem têm a mesma regulamentação rigorosa dos medicamentos.
IP – Como saber se está precisando de suplemento?
Marcus – A necessidade de um suplemento deve ser avaliada por um profissional de saúde, como um médico ou nutricionista. Através de exames laboratoriais e da avaliação clínica, é possível identificar deficiências nutricionais específicas que possam justificar o uso de suplementos. O uso indiscriminado, sem orientação, pode não só ser desnecessário como também prejudicial.
IP – Como pode prejudicar?
Marcus – Um exemplo desse prejuízo, bem documentado na literatura médica, é o uso excessivo de suplementos de betacaroteno em pessoas que fumam. Estudos demonstraram que a suplementação com altas doses de betacaroteno, um precursor da vitamina A, pode aumentar o risco de câncer de pulmão em fumantes e ex-fumantes. O betacaroteno, quando ingerido em quantidades normais através da alimentação, é benéfico e está presente em alimentos como cenoura, abóbora e batata-doce. No entanto, quando consumido em doses elevadas na forma de suplementos, ele pode ter efeitos adversos, especialmente em grupos de risco como fumantes.
IP – Porque isso ocorre?
Marcus – Porque o excesso de betacaroteno pode ter um efeito pró-oxidante, em vez de antioxidante, potencialmente promovendo o desenvolvimento de câncer de pulmão. Esse exemplo ilustra a importância de não se automedicar com suplementos, especialmente em altas doses, e de buscar orientação profissional antes de iniciar qualquer suplementação, considerando os riscos e os benefícios de acordo com o perfil de cada indivíduo.
IP – Os suplementos são realmente compostos naturais
Marcus – Nem sempre. Embora muitos suplementos sejam feitos a partir de fontes naturais, como plantas ou alimentos, alguns podem conter substâncias sintéticas, criadas em laboratório, para replicar o efeito dos compostos naturais. Além disso, a origem dos ingredientes nem sempre garante que o produto final seja seguro ou eficaz, reforçando a importância de orientação profissional.
IP – Quando são indicados?
Marcus – Os suplementos são indicados em situações específicas, como deficiências nutricionais diagnosticadas, condições que aumentam a necessidade de certos nutrientes, ou em alguns casos, como complemento à dieta em indivíduos com dificuldade de absorção de nutrientes. Por exemplo, pacientes com doença celíaca (uma doença inflamatória induzida pelo glúten) podem ter dificuldade de absorver cálcio e ferro e necessitarem de suplementação. Mas cada caso deve ser visto individualmente.
IP – Há alguma indicação especial para idosos?
Marcus – Sim, os idosos podem ter necessidades nutricionais diferentes, devido a mudanças no metabolismo, absorção de nutrientes e condições de saúde associadas ao envelhecimento. Em alguns casos, suplementos específicos, como de vitamina D, cálcio ou vitamina B12, podem ser indicados, sempre com orientação médica para garantir que sejam seguros e eficazes.
IP – Os suplementos não precisam de prescrição?
Marcus – O uso de suplementos deve, sempre, ser orientado por um profissional de saúde. Apesar de muitos suplementos estarem disponíveis sem prescrição, o uso indiscriminado pode levar a excesso de nutrientes ou interações prejudiciais com outros medicamentos.
IP – O consumo excessivo pode acarretar algum dano?
Marcus – Sim, o consumo excessivo de suplementos pode causar danos à saúde. Por exemplo, o excesso de vitaminas lipossolúveis, como A, D, E e K, pode se acumular no organismo e causar toxicidade. Da mesma forma, o excesso de minerais, como o ferro, pode causar efeitos adversos graves. Veja por exemplo, o uso excessivo e inadvertido de suplementos de vitamina E. Estudos mostraram que altas doses de vitamina E, quando suplementadas de forma indiscriminada, podem estar associadas a um aumento no risco de câncer de próstata.
IP - O que esse trabalho trouxe de novidade?
Marcus – Um estudo conhecido como SELECT (Selenium and Vitamin E Cancer Prevention Trial), foi observado que homens que tomaram altas doses de vitamina E (400 UI/dia) apresentaram um risco significativamente maior de desenvolver câncer de próstata em comparação com aqueles que não tomaram o suplemento. A vitamina E, em doses adequadas, atua como um antioxidante benéfico, mas em quantidades excessivas, pode ter efeitos negativos e até aumentar o risco de desenvolvimento de certos tipos de câncer. Mais um exemplo que reforça a importância do uso de suplementos com cautela e somente sob orientação de um profissional de saúde, já que o excesso de certos nutrientes pode não apenas serem desnecessários, mas também prejudiciais à saúde.
IP – Podem ser utilizados juntamente com medicações ou há perigo?
Marcus – Suplementos podem interagir com medicamentos, alterando sua eficácia ou aumentando o risco de efeitos colaterais. Por exemplo, suplementos de cálcio podem interferir na absorção de certos antibióticos. Por isso, é fundamental informar ao médico sobre todos os suplementos que está utilizando para garantir que não haja interações prejudiciais.
IP – Os suplementos podem substituir a alimentação?
Marcus – É importante destacar que, apesar da popularidade dos suplementos, a base de uma boa saúde é uma alimentação equilibrada e variada. Suplementos não substituem os alimentos e, muitas vezes, seus benefícios são mais limitados do que se imagina. Além disso, a escolha e uso de suplementos deve sempre ser baseada em evidências científicas e orientada por um profissional de saúde, evitando o risco de automedicação e de consequências indesejadas.
IP – Quais dicas daria então para se uma vida saudável?
Marcus – Tenha bons amigos, tire tempo com a sua família, ame sempre que puder, sorria bastante, alimente-se de alimentos naturais, caminhe pelo menos 50 min por dia e durma bem. Essa fórmula custa pouco e prolonga os nossos dias com mais saúde e disposição.