Inclusão, memória e a CLT no encerramento do Encontro

No último dia do XXVIII Encontro Regional da Amatra VI, novos enfoques sobre os 80 anos da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) foram apresentados pelos conferencistas do encerramento do evento. O ministro do TST, Cláudio Brandão, falou sobre inclusão e a lei de cotas, enquanto a desembargadora Eneida Melo, recentemente aposentada, alertou sobre a fundamental garantia da preservação da memória do Direito do Trabalho.

Ao lembrar que a Lei de Cotas completou 32 anos, o ministro Cláudio Brandão apontou as diversas normas nacionais e internacionais de proteção às Pessoas com Deficiência (PCD), entre elas convenções da Organização das Nações Unidas (ONU), não aplicadas no Brasil.

Os números, segundo ele, impressionam: são mais de 1 bilhão de pessoas no mundo com deficiências, segundo a ONU, e mais de 13 milhões no país, onde metade das empresas não cumprem a lei das cotas. “Ademais, temos pouco mais de 1% de pessoas com deficiências em empregos formais no país”, completou.

Tendo o desembargador Sergio Torres na presidência da mesa, o ministro citou algumas causas para essa situação, entre elas o desconhecimento – por parte de magistrados e advogados – da Convenção da ONU, por exemplo, além da dificuldade de mobilização social para a causa, exigindo mudanças no comportamento da sociedade para fazer valer os direitos dessas pessoas. “Não os enxergamos como cidadãos titulares de direito e isso precisa mudar”, afirmou.
Antes da segunda conferência, o desembargador Sergio Torres fez a leitura de uma mensagem da ministra do TST, Delaíde Alves, que não pode comparecer ao evento em decorrência de doença.

Memória – Numa análise geral sobre a história da CLT, a desembargadora Eneida Melo assegurou que tal norma é, até os dias atuais, de uma imensa importância para garantir a dignidade do homem e da justiça social e que, sendo considerada “a carta do cidadão”, deve ser respeitada pelo Estado e pelos particulares.

Com a juíza Luciana Conforti – vice-presidente da Anamatra – presidindo a mesa, a desembargadora Eneida disse, destacou, ainda, que o Direito do Trabalho, por sua essencialidade, exige um esforço para sua preservação histórica, com registro documental de sua trajetória. Deste modo, a desembargadora trouxe ao público detalhes do projeto Memórias do Mundo, da Unesco, para salvaguardar o acesso da Justiça do Trabalho em vários estados do país, inclusive Pernambuco.

“Neste percurso dos oitenta anos da CLT, a compreensão acerca da necessidade de preservá-la e com o isso o próprio acervo documental que contém a história da Justiça do Trabalho, favorece o conhecimento e divulgação da história das lutas sociais, dos direitos fundamentais, dos direitos humanos e da razão de ser do Judiciário trabalhista”, afirmou.

A desembargadora completou ainda que “sem memória perde-se no tempo o registro da trajetória de lutas e conquistas dos povos no sentido de alcançar a liberdade, a igualdade, o respeito, a dignidade, a solidariedade. Sem memória impede-se o indivíduo de conhecer suas origens, com o que se fragiliza a cidadania. Sem memória, não seria possível definir o momento de criação e transformação ao longo de décadas desta instituição fundamental para a cidadania no Brasil: a Justiça do Trabalho”, finalizou.