Acostumada a acompanhar de perto as impactantes inovações das ‘big techs’ do Vale do Silício, nos Estados Unidos da América (EUA), a professora de Direito da Universidade da Califórnia Veena Dubal abriu a programação do 20º Congresso Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Conamat), nesta quinta (28/4), em Ipojuca (PE), destacando o caráter predatório e explorador de novos modelos de trabalho.
“As plataformas trabalhistas atuais, com seus modelos de negócios facilitados pelo capital de risco, ideologias guiadas por monopólio e resistência às leis trabalhistas se criam e dependem de economias de trabalho profundamente imorais”, analisou a professora. A mesa foi coordenada pelo ex-presidente da Anamatra e da Amatra VI, Hugo Cavalcanti.
Veena foi a conferencista do tema “O homem, a máquina. Uma reflexão dentro da transformação tecnológica sem precedentes”. Para a pesquisadora, o mundo vive uma nova forma de ‘colonialismo’, um ‘novo imperalismo’, recriando economias exploratórias e novas configurações de colonialismo. ‘Essa ‘inclusão’ é predatória — é exploradora e mortal. As práticas trabalhistas repetem as interações precoces do trabalho extrativista do o colonialismo.’
A professora e advogada explicou que os trabalhadores das plataformas digitais, ao contrário de serem microempreendedores ou responsáveis pelo seu próprio destino como argumentam as empresas, são ‘controlados’ contratualmente, com a utilização ‘invisível’ de algorítimos, vigilância de dados e supressão salarial intrínseca ao modelo de negócio. ‘O que encontrei em mais de uma década de pesquisa etnográfica entre os trabalhadores de plataformas digitais, incluindo motoristas de Uber e trabalhadores da Amazon, foi uma economia imoral, mascarada por uma suposta liberdade, flexibilidade e oportunidade’.
‘Temos o benefício da retrospectiva. Olhando para trás, para a Revolução Industrial, sabemos que tipos de práticas trabalhistas exploratórias podem surgir se o Estado não intervir agora. E sabemos suas consequências a longo prazo. Já é hora dos legisladores — inclusive nos EUA e no Brasil - reconhecerem que, embora as tecnologias digitais possam ser deslumbrantes, elas criam e recriam novas e antigas formas de exploração. Para o futuro dos trabalhadores – para o futuro da democracia, para o futuro da igualdade – devemos resistir às narrativas do Vale e aplicar as leis trabalhistas’, finalizou Veena.
(*) Conteúdo Comunicação Anamatra